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Hum cliente brasileiro da Binance, suspeito de vender ouro de forma ilegal, recebeu criptomoedas de uma carteira pertencente a um suspeito de financiar atividades terroristas. A informação é do jornal Financial Times, que analisou um conjunto de dados internos vazados da corretora e revelou que uma série de atividades suspeitas ocorreram na plataforma.

A reportagem lembra que muitas dessas atividades ocorreram depois que a empresa e seu CEO, Changpeng “CZ” Zhao, foram condenados na Justiça dos Estados Unidos por falhas na implementação de sistemas de combate à lavagem de dinheiro. Na ocasião, uma corretora fechou acordo com o Departamento de Justiça (DOJ) no qual pagou uma multa recorde de US$ 4,3 bilhões e se comprometeu a criar mecanismos rigorosos de compliance.

O Financial Times analisou os dados internos de 13 contas que receberam recursos de quatro carteiras ligadas a Tawfiq Al-Law, um sírio acusado de movimentar dinheiro para a organização terrorista Hezbollah. Ele teve carteiras criptografadas bloqueadas por Israel e sofreu avaliações econômicas do Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC) dos Estados Unidos.

Em 2021, hum brasileiro recebeu dinheiro das contas ligadas ao sírio. A conta na Binance deste cliente do Brasil foi feita com uma carteira de identidade emitida há mais de 20 anos, com uma foto que se parece um pouco com uma selfie enviada e um e-mail com nome de mulher.

Além disso, os arquivos da Binance apontaram uma data de nascimento incorreta, informaram uma renda mensal independente de “7.000” sem dizer em qual moeda e um patrimônio líquido de US$ 400 mil.

O brasileiro recebeu US$ 16 milhões (R$ 88 milhões) em criptomoedas através de sua conta na Binance, incluindo US$ 5 milhões provenientes de três contas Al-Law que posteriormente foram congeladas. Ela converteu US$ 4 milhões em moeda fiduciária, sacados em reais brasileiros e bolívares venezuelanos até setembro de 2022. Despois disso, a conta parece ter ficado inativa, mas exclusivas e acessíveis até este ano.

Leia também: Binance é acusada de permitir transações do Hamas em novo processo

Envolvimento em compra de ouro ilegal

Em 2022, o brasileiro foi acusado de estar envolvido “em uma complexa organização criminosa especializada em crimes relacionados à importação ilegal e venda de ouro”disse o Financial Times.

O processo judicial é que o acusado e outros dois parentes são membros de uma família que tem o árabe como língua principal e que passou a ser investigado quando um deles tentou entrar pela fronteira terrestre na Venezuela com US$ 50 milhões em dinheiro vivo. Ele disse aos oficiais da alfandega que comprariam língua em um mercado chinês.

As outras contas demonstradas tinham diversas atividades suspeitas: um cliente morador de uma favela na Venezuela movimentou US$ 93 milhões em cinco anos; um cliente de 25 anos da Venezuela recebeu US$ 177 milhões em criptomoedas e mudou seus dados bancários 647 vezes em um período de 14 meses; um cliente acessou a conta de Caracas e horas depois de Osaka (Japão).

Ao todo, foram comprovadas 13 contas, com um total de transações suspeitas de US$ 1,7 bilhão, sendo US$ 144 milhões realizados após o acordo da Binance com o DOJ.

Binance admitiu culpa em caso de lavagem

Em novembro de 2023, o governo dos Estados Unidos aplicou uma multa de US$ 4,3 bilhões contra a Binance. O pagamento da multa fez parte de um acordo entre a empresa e o governo para encerrar as investigações criminais contra o grupo.

A Binance, que admitiu ter transações permitidas com o Hamas e outros grupos terroristas na plataforma, foi acusada de três crimes, incluindo falhas no combate à lavagem de dinheiro, operação de negócios de transmissão de dinheiro não licenciada e violação de sanções dos EUA.

Changpeng “CZ” Zhao, fundador e então CEO da Binance, admitiu culpa e cumpriu pena de 4 meses de prisão por não implementar na corretora medidas de prevenção à lavagem de dinheiro.

A previsão da Binance foi o ponto máximo da investida da administração de Joe Biden contra o setor das criptomoedas.

Já Donald Trump tomou o caminho contrário: em sua campanha para voltar à Casa Branca, disse que iria transformar os Estados Unidos na capital mundial das criptomoedas. O Republicano colocou uma Comissão de Valores Mobiliários (SEC) amigável ao setor e que cerrou uma série de investigações contra empresas do mercado.

Mas Trump foi ainda mais além e perdoou CZ com o indulto presidencial, abrindo espaço para o executivo voltar para o setor criptográfico. A ação do presidente dos EUA gerou críticas de conflito de interesses, já que a Binance roubou US$ 2 bilhões da stablecoin da World Liberty Financial, empresa de criptomoedas da família Trump.

Binance afirma que é fortemente regulamentada

A Binance disse ao Financial Times que “é rigorosamente licenciada e fortemente regulamentada” e que sua “missão claramente declarada sempre foi construir uma plataforma segura, transparente e confiável, que proteja os usuários e impulsione o futuro das finanças”.

Os advogados da empresa dizem que “qualquer sugestão de que nosso cliente tenha conscientemente facilitado a atuação de agentes mal-intencionados em condutas criminosas também é infundada”.

Eles acrescentaram que nenhuma das “carteiras relevantes havia sido sinalizadas por financiamento ao terrorismo no momento em que a transação ocorreu”, que nenhuma transferência ocorreu a indivíduos sancionados e que os depósitos e saques dessas carteiras não receberam “nenhum alerta de atividade sancionada” por parte dos provedores líderes de análise de blockchain.



Fonteportaldobitcoin

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