Em sua primeira passagem pelo Brasil, Vitalik Buterincofundador do Ethereumfez uma palestra dedicada a um problema que, segundo ele, acompanha a biodiversidade cripto desde o início: a privacidade.
A conversa, voltada para desenvolvedores brasileiros que participam de um hackathon promovido pelo evento ETH Latam, foi técnica. Buterin apresentou um panorama do que já foi feito para resolver o problema da privacidade na internet e que vem sendo construído nesse campo dentro do ecossistema do Ethereum — a blockchain por trás da segunda maior criptomoeda do mundo, o ETHe base para milhares de aplicações descentralizadas.
Ele começou lembrando que as raízes das criptomoedas surgiram nos anos 80, com o dinheiro eletrônico de David Chaum, que era privado, mas não descentralizado. Trinta anos depois, o Bitcoin inverteu essa lógica: descentralizado, mas não privado.
O ponto, segundo Vitalik, é que a limitação era tecnológica, mas hoje não é mais. Segundo ele, um a tecnologia já está madura o suficiente para escalar a privacidade sem abrir a mão da descentralização.
“O motivo pelo qual a privacidade é tão importante é que ela é, essencialmente, uma forma de liberdade. A privacidade é necessária para viabilizar vários mecanismos básicos da sociedade — até coisas simples, como comunicação e colaboração. Não é uma abstração, como descentralização ou neutralidade credível. É um benefício concreto, um direito humano fundamental. E é algo que, finalmente, podemos realizar no mundo de hoje. Então, acredito que devemos fazê-lo”, disse Vitalik.
Ainda assim, constatou-se que as soluções atuais ainda são mais difíceis de usar para um usuário comum. Por isso, pediu que os desenvolvedores foquem em maneiras de tornar as transações privadas “parte do fluxo padrão” dos blockchains.
Buterin comenta o fim do Drex
Durante uma conversa, Buterin foi questionado sobre o abandono do projeto Drexdo Banco Central do Brasil, anunciado nesta semana. O programa já havia deixado de lado o uso de blockchain, em parte pela percepção de que a tecnologia não oferece privacidade suficiente para as transações.
Vitalik, porém, tem uma visão diferente. Para ele, já existe tecnologia madura o suficiente no ecossistema para garantir a privacidade sem comprometer a transparência ou a segurança das redes.
“A capacidade de fazer pagamentos privados era algo que, há dois anos, ainda não estava realmente pronta. Mas eu diria que hoje já está. Então tudo depende de quais são as propriedades específicas que eles (do Banco Central do Brasil) buscam, quais tipos de aplicações estão tentando usar e em que aspectos as plataformas atuais são insuficientes”, afirmou.
“A questão é: eles estão insatisfeitos com as soluções existentes por causa de propriedades fundamentais essas soluções? Ou estão insatisfeitos apenas porque essas soluções ainda não eram maduras?”, acrescentou.
Na visão de Vitalik, Como as tecnologias evoluem constantemente, e o uso de blockchain não deve ser descartado como ineficiente. Ele citou como exemplo o projeto astecaque, segundo ele, há dois anos era uma tecnologia bastante imatura, mas agora já possui um sistema de preservação de privacidade muito mais desenvolvido, com contratos inteligentes que funcionam de forma prática.
Dar privacidade para pessoas, não financiar crimes
Vitalik destacou que o Ethereum foi pioneiro em pesquisas e soluções para o problema da privacidade desde 2018, com bibliotecas que apresentavam possíveis aplicações de preservação de dados.
Ele lembrou a chegada do Tornado Cash, em 2020, como “o primeiro grande app de privacidade no Ethereum”, e citou projetos mais recentes como o Railgun e o Privacy Pools. Este último introduz a ideia de “conjuntos de associação” (conjuntos de associação), uma tecnologia que Buterin apontou como altamente promissora para reduzir o uso indevido de protocolos de privacidade sem comprometer o anonimato dos usuários.
“É surpreendente como essa coisa simples cobre a maioria das preocupações. Grandes hacks deixam trilhas óbvias; golpes de scam centers também. Projetos que usam conjuntos de associações relatam ordens de grandeza menos presença de maus atores sem sacrificar a privacidade de usuários legítimos.”
O recado final de Vitalik é que uma agenda de privacidade saiu do laboratório. As provas criptográficas evoluíram, o ecossistema de ferramentas existe, e há exemplos concretos de mitigação de abuso sem retroceder para “backdoors” ou vigilância centralizada. Para ele, o principal desafio agora é de produto: transformar privacidade em padrão de fábricatão banal quanto ver o cadeado do HTTPS no navegador.
“Construímos uma experiência completa de usuário para Ethereum que é totalmente privada por padrão, sem fricção, sem carteiras separadas. A tecnologia está pronta. Agora é implementada.”
Fonteportaldobitcoin



