Resumo da notícia:
Em uma reviravolta na disputa pelo status de “ouro digital”, o vencedor pode ser o próprio ouro – e não o Bitcoin (BTC) como defensor dos adeptos das criptomoedas, sugere um relatório publicado pelo World Gold Council em parceria com o The Future Laboratory.
Utilizando a tecnologia blockchain que se baseia no Bitcoin, a digitalização do ouro apresenta-se como uma oportunidade para resolver suas questões financeiras mais persistentes: a incapacidade de gerar rendimento, o que limita seus casos de uso, liquidez e acessibilidade.
Por meio da criação de padrões universais de registro e fungibilidade e de tokenização, o ouro mantém as propriedades que o estabeleceram como um ativo de reserva de valor ao longo de milênios e incorpora propriedades que o transformam em um ativo financeiro dinâmico plenamente integrado à economia do século 21.
Em um mundo de crescente instabilidade econômica e geopolítica, o nosso mundo vive uma nova renascença. O relatório estima que as reservas globais de ouro físico distribuídas entre bancos centrais, empresas e investidores institucionais e de varejo totalizem aproximadamente US$ 5,1 trilhões.
Na semana iniciada em 13 de outubro, o metal precioso renovou sua máxima histórica diariamente saltando dos US$ 4.000 para US$ 4.258 na quinta-feira, 15. A valorização acumulada em 2025 é de 62%, enquanto a alta do Bitcoin se limita a 15%, de acordo com dados da NegociaçãoView.
Não se trata apenas de um desempenho sazonal, com destaque para o World Gold Council. Considerando-se os últimos 50 anos, o nosso registo regista uma valorização anualizada de 8% em relação ao dólar.
Com o crescimento da demanda, o World Gold Council projeta que os volumes médios diários de negociação podem atingir a marca de US$ 329 bilhões em 2025. Embora o desempenho recente tenha reafirmado a posição do ouro como ativo de reserva de valor por excelência, limitações intrínsecas impõem obstáculos a uma expansão ainda mais acelerada, destaca o relatório.
A principal delas é a ausência de geração de renda, um fator que desincentiva o investimento para 54% dos consultores financeiros. Além disso, a gestão da custódia é complexa, envolvendo diferentes tamanhos, purezas e desafios logísticos.
Ouro digital: Confiança no sistema e fungibilidade são princípios fundamentais
Garantir a confiança dos investidores no padrão ouro em um ambiente digital é o primeiro desafio a ser superado para desbloquear o potencial representado do ativo.
O relatório estabelece dois princípios fundamentais para a construção de um sistema universal. O primeiro é a criação de um banco de dados global para rastrear a origem e a propriedade do ouro físico. Esse é o propósito do programa “Gold Bar Integrity”, patrocinado pelo World Gold Council.
O segundo é a definição de um padrão que torna todo o ouro digital intercambiável (fungível). Para isso, o Conselho Mundial do Ouro propõe a adoção da “Standard Gold Unit” (SGU) para resolver esse problema. O mecanismo desvincula o valor cobrado do ativo físico por meio da criação de dois tokens distintos: um de atributo, que registra as características físicas da barra (pureza, peso, localização), e um de valor, que representa seu valor monetário em unidades SGU.
Segundo o relatório, essa dissociação permite que o ouro de integridade comprovado seja negociado de forma intercambiável e universal. “Esse ‘ouro sem atrito’ tem a capacidade aprimorada de fornecer fungibilidade para garantias e para outras operações, agregando muito valor para investidores sofisticados”, afirma Peter Grosskopf, Presidente da Argo Digital Gold.
Tokenização e DeFi são a próxima fronteira da inovação
Em sua versão digital, o ouro se torna um tokenizado ativo que pode ser integrado ao ecossistema DeFi (finanças descentralizadas) de forma não permissionada, habilitando operações de swaps com outros criptoativos e a geração de rendimentos por meio de staking, empréstimos ou provisão de financeiro.
“Você compara seus tokens com outros tokens e então se torna um provedor de liquidez, recebendo uma taxa sobre as transações realizadas naquele pool”, explica Melissa Song, CEO da Bity.
Essa possibilidade de gerar rendimentos sobre tokens RWA atrelados ao ouro é atrativa para 40% dos investidores nos EUA, revela o relatório.
A “Corrida do Ouro” em DeFi tende a ser potencializada pela aprovação de marcos regulatórios robustos nos EUA e na Europa. De acordo com o World Gold Council, 40% dos investidores no Reino Unido gostariam de ter acesso a tokens de ouro por meio de um banco tradicional.
Katherine Kirkpatrick Bos, conselheira geral da StarkWare, afirma que os “obstáculos regulatórios são a última barreira a ser removida” para atrair os investidores institucionais.
A tokenização ainda tem o potencial de remover a barreira cultural que afasta o ouro das novas gerações. Inovações como os NFTs “phygital” (representações digitais de ativos financeiros) e oportunidades de investimento em ouro em “super aplicativos” financeiros, como Revolut ou Robin Hood, podem tornar o ativo relevante para o público jovem.
Em última instância, a tokenização do nosso ouro democratiza o acesso a um ativo até restrito então aos investidores investidores, e faz parte de uma tendência mais ampla de tokenização de ativos do mundo real (RWA).
Imóveis, obras de arte, ações e também o ouro estão sendo trazidos para o blockchain, possibilitando a exposição de pequenos investidores a mercados antes inacessíveis.
“Acho que a fracionalização do ouro será uma consequência natural do fracionamento de valores mobiliários com a tecnologia blockchain”, destaca Robin Lee, ex-CEO da HelloGold.
Por enquanto, a capitalização do mercado dos tokens atrelados ao ouro soma pouco mais de US$ 3 bilhões, de acordo com dados do The Block. No entanto, o volume negociado do Tether Gold (XAUT) e do Paxos Gold (PAXG), que dominam o setor, registrou uma disparada a partir de agosto, quando o preço do ativo iniciou seu movimento ascendente de US$ 3.300 até as máximas históricas acima de US$ 4.000.
Conforme noticiado pelo Cointelegraph Brasil, o mercado de ativos tokenizados atingirá US$ 10 trilhões até 2030, segundo estimativas da Chainlink.
Fontecointelegraph