Pontos principais:
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As iniciativas do Brasil são corporativas e municipais, não soberanas.
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Os ETFs spot da B3 e os futuros restritos de 0,01 BTC permitem que os tesoureiros ganhem, dimensionem e façam hedge de exposição usando ferramentas já familiares.
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Os novos padrões para VASPs (licenciamento, AML/CFT, governança e segurança), válidos a partir de fevereiro de 2026, deixam a incerteza operacional.
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Sequência-chave: criar regras → listar produtos simples de acesso → adicionar ferramentas de hedge → aplicar requisitos de divulgação.
O que realmente está acontecendo no Brasil?
Para deixar claro: a Secretaria do Tesouro Nacional e o Banco Central do Brasil não estão adicionando Bitcoin às reservas soberanas do país. Também não existe qualquer lei que exija que órgãos públicos ou estatais mantenham Bitcoin (BTC).
O que está acontecendo, em vez disso, é um conjunto fragmentado de iniciativas municipais, empresas especializadas e novas infraestruturas de mercado entrando em operação:
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Em 2022, o prefeito do Rio de Janeiro sugeriu alocar 1% das reservas da cidade em criptografia, o que trouxe as tesourarias federais para o debate.
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No setor corporativo, a Méliuz desenvolveu uma estratégia de tesouraria em Bitcoin em 2025, obteve aprovação dos acionistas para ampliá-la e anunciou cerca de 180 milhões de reais (aproximadamente US$ 32,4 milhões) para comprar BTC.
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A exposição no mercado público também está crescendo. Em outubro de 2025, a OranjeBTC foi listada na B3 com milhares de BTC em seu balanço.
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O Banco Central perseverou nas regras para provedores de serviços de ativos virtuais (VASPs), proteção à prevenção à lavagem de dinheiro (AML), combate ao financiamento do terrorismo (CFT), além de governança e proteção ao consumidor, com aplicação prevista para fevereiro de 2026.
Nas instruções a seguir, explicaremos o “o quê”, o “porquê” e os riscos envolvidos.
Você sabia? A B3 (sigla para Brasil, Bolsa, Balcão) é a principal bolsa de valores do país, formada em 2017 pela fusão das bolsas de valores, de futuros e de mercadorias de São Paulo. É uma das maiores infraestruturas do mercado do mundo e a primeira na América Latina a listar um ETF de Bitcoin spot.
O que o Brasil foi construído até agora?
O Brasil passou os últimos anos criando formas reguladas e familiares de acesso ao Bitcoin.
Em 2021, a B3 listou o primeiro ETF de Bitcoin spot da América Latina (o QBTC11, da QR Asset), oferecendo às instituições um instrumento auditável sem exigência de autocustódia desde o primeiro dia. Os derivados vieram depois.
Em meados de 2025, a B3 reduziu o tamanho do contrato futuro de Bitcoin de 0,1 BTC para 0,01 BTC para ampliar a participação e melhorar a proteção (hedge). A mudança foi renovada formalmente em 16 de junho de 2025, por circular e aviso público.
A inovação em produtos acompanha esse ritmo. Gestores lançaram fundos híbridos que combinaram Bitcoin e ouro na B3, mostrando que reguladores e bolsas estão confortáveis em hospedar produtos ligados a criptografia nos mercados públicos.
O conjunto de regras está amadurecendo junto com os produtos. Em novembro de 2025, o Banco Central publicou padrões detalhados para VASPs, cobrindo licenciamento, AML/CFT, governança, segurança e proteção ao consumidor, com aplicação a partir de fevereiro de 2026.
Para tesoureiros, isso reduz a incerteza operacional ao usar ETFs, futuros e intermediários regulados.
Por que os tesoureiros brasileiros estão fazendo isso
As equipes de tesouraria buscam suavizar resultados e proteger o poder de compra em um mercado onde o real pode oscilar fortemente por decisões políticas e choques externos.
Uma pequena alocação em Bitcoin, mantida por instrumentos auditados, adiciona um hedge líquido e não soberano ao lado de dólares e títulos locais, sem exigir novas operações de custódia.
Também se trata de usar canais familiares. Os ETFs spot e futuros listados na B3 permitem que os tesoureiros dimensionem, rebalanceiem e façam hedge dentro das mesmas rotinas de governança e auditoria aplicadas a outros ativos. O contrato futuro limitado para 0,01 BTC torna o hedge mais preciso e barato na escala de tesouraria.
Agora existe um modelo de governança. A Méliuz mostrou a sequência que os conselhos desejam ver: aprovação dos acionistas → divulgação clara → execução → capital adicional para ampliar a posição. Isso reduz o risco de carreira para outros diretores financeiros que avaliam uma alocação piloto.
O acesso é importante para quem não pode manter a criptografia diretamente. A listagem da OranjeBTC na B3 fornece exposição acionária a uma grande posição de BTC em balanço, permitindo que as instituições participem por meio do veículo listado mantendo-se dentro do mandato.
Por fim, a trajetória regulatória reduz a incerteza operacional. Com os padrões da VASP do Banco Central, que cobrem licenciamento, AML/CFT, governança e segurança, entraram em vigor em fevereiro de 2026, os tesoureiros podem contar com intermediários licenciados e controles documentados, em vez de infraestrutura criptografada feita sob medida.
Você sabia? Um ETF de Bitcoin spot é um fundo que detém Bitcoin real e permite que você compre cotas desse Bitcoin em uma bolsa de valores, como qualquer outro ETF. Ele oferece exposição ao preço, liquidez diária e custódia auditada sem a necessidade de gerenciar sua própria carteira ou chaves, motivo pelo qual tesoureiros e instituições frequentemente o atualizam em vez de manter moedas diretamente.
Os riscos e como o Brasil está lidando com eles
O Brasil conhece os riscos e está reforçando seu manual de atuação.
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Volatilidade do mercado: O Bitcoin pode oscilar fortemente, então tesoureiros que optam pela exposição costumam limitar o tamanho das posições, definir regras de rebalanceamento e usar instrumentos de hedge listados. Os futuros menores de 0,01 BTC da B3, em vigor desde 16 de junho de 2025, facilitam a proteção contra lucros, perdas e choques de liquidez com maiores lucros.
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Risco operacional e de contraparte: Autocustodia, exposição a exchanges e segurança de fornecedores não são desafios simples. Os novos padrões para VASPs do Banco Central aproximam-se dos intermediários criptográficos das normas do sistema financeiro tradicional.
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Clareza jurídica e de fiscalização: Promotores e reguladores precisam de ferramentas previsíveis quando a criptografia se cruza com casos criminais. Um novo projeto de lei permitirá que instituições financeiras liquidem criptomoedas apreendidas, alinhando o tratamento ao câmbio e valores mobiliários e fornecendo áreas cinzentas na aplicação da lei.
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Percepção pública e divulgação: “Tesouraria em Bitcoin” continua sendo um tema politicamente sensível. Os caminhos listados na bolsa obrigam as empresas a relatórios auditados e divulgação contínua sobre exposição, custódia e risco. Essa transparência ajuda conselhos e reguladores a ganhar confiança conforme o mercado maduro.
Como o Brasil se compara: Caminhos de tesouraria em BTC
O que outras nações podem aprender
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Lembre-se: o Brasil criou regras. O Banco Central define critérios claros para quando as criptomoedas são tratadas como câmbio e elevou os padrões para VASPs em AML/CFT, governança, segurança e proteção ao consumidor.
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Lance produtos simples de acesso logo no início. O QBTC11 e outros ETFs foram lançados em 2021, oferecendo às instituições um instrumento auditado e familiar, sem obrigá-las a construir operações de custódia do zero. Com um ETF, os tesoureiros fornecem uma exposição dimensional dentro dos mandatos existentes.
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Adicione ferramentas de hedge para os gestores de risco. Em junho de 2025, a B3 irá alterar o tamanho do contrato futuro de Bitcoin para 0,01 BTC. Contratos menores tornam os hedges mais baratos e precisos, permitindo que conselhos aprovem seu uso e equipes de tesouraria gerenciem VaR e saques com mais controle.
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Normas de incentivo de divulgação por meio dos veículos listados. Empresas constituídas com tesouraria em Bitcoin, como Méliuz e OranjeBTC, criam referências para auditorias, processos de conselho, políticas de imparidade e ritmo de divulgação. Esses casos se tornam modelos para outros seguirem.
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Faça pilotos abaixo do nível federal. Projetos pilotos em cidades ou agências expõem questões políticas e contábeis precoces. O sinal de 1% do Rio de Janeiro em 2022 mostrou como a percepção pública rapidamente vira o centro do debate e por que mandatos e limites de risco precisam ser claros.
A sequência é direta: criar o conjunto de regras, introduzir produtos simples de acesso, reduzir derivativos para apoiar hedges e permitir que padrões de divulgação amadureçam nos mercados públicos. Só então a discussão sobre colocar BTC na tesouraria se tornaria realmente significativa.
Fontecointelegraph




