Resumo da notícia:
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O Senai Parque tem como objetivo desenvolver projetos que impulsionem a produtividade da indústria.
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O Espaço de Inovação já conta com dois projetos contratados que somam R$ 100 milhões em investimentos.
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O Porto Digital conta com 475 empresas que geram mais de 21 mil postos de trabalho.
O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) de Ipojuca (PE) inaugurou nesta segunda-feira (20) um “berçário” tecnológico. A iniciativa não é caso isolado na região metropolitana do Recife, já que a capital pernambucana é sede do Porto Digital, um dos grandes polos tecnológicos do país.
De acordo com informações da Agência Brasil, o berçário de Ipojuca, o “Senai Park”, tem como objetivo desenvolver projetos que impulsionem a produtividade da indústria da região e de todo o país. O que inclui a utilização de soluções em inteligência artificial (IA).
A instalação de 1,4 hectare – quase um campo de futebol e meio – é dividida em módulos e fica nos arredores de dois outros locais que são referência para o setor industrial nordestino: a refinaria da Petrobras Abreu e Lima e o Porto do Suape.
O espaço servirá para que indústrias possam montar as chamadas plantas-piloto, que funcionarão como ambiente de testes para o desenvolvimento de produtos e tecnologias. É como se fossem minifábricas, de forma que seja mais fácil testar e avaliar soluções, procedimentos e inovações.
Segundo o diretor de Inovação e Tecnologia do Senai-PE, Oziel Alves, o objetivo é fornecer às indústrias caminhos para que cheguem à “indústria do futuro”.
O grande objetivo é desenvolver novas tecnologias, colocá-las no mercado, levar para um cenário real industrial, para que possamos efetivamente mostrar essas tecnologias em operação, descrevem.
Indústria 4.0
A indústria do futuro, também conhecida como indústria 4.0, é a que utiliza tecnologias digitais como inteligência artificial, internet industrial das coisas, duas digitais (réplica virtual de um objeto ou sistema), produção aditiva (impressora 3D) e realidade aumentado.
A diretora regional do Senai, Camila Barreto, aponta que o centro de inovação é um elemento de integração de empresas, universidades e institutos de pesquisa “em torno de soluções para desafios concretos da indústria”.
Os industriais também poderão fazer visitas virtuais para acompanhar o desenvolvimento das inovações. Ferramentas de inteligência artificial para monitorar os processos.
Além de criar produtos e tecnologias, o espaço será voltado para “tropicalizar” técnicas estrangeiras, ou seja, adaptá-las ao ambiente das fábricas nacionais.
O Senai Park poderá ser acessado por empresas de fóruns de Pernambuco. Para Oziel Alves, mesmo que a indústria não seja pernambucana, aumenta a chance de novos negócios na região.
Projetos de R$ 100 milhões
O espaço de inovação já conta com dois projetos contratados que somam R$ 100 milhões em investimentos, ambos relacionados à transição energética. Um deles tem como objeto desenvolver a cadeia do hidrogênio verde, um combustível limpo. O segundo trata da produção de baterias de lítio, essencial para uma frota crescente de carros híbridos e elétricos.
Há uma expectativa de captar mais R$ 200 milhões em outros desenvolvimentos. Um deles desenvolverá sistema de radar para frenagem automática de veículos, enquanto outro, com a petroleira multinacional americana ExxonMobil, envolve drones com funções específicas em plataformas de petróleo em alto-mar.
Com o desenvolvimento de tecnologias no Parque Senai, as indústrias participam de uma espécie de divisão de riscos, uma vez que não assumem sozinhas todo o processo de inovação, uma vez que já encontram um “berçário” estruturado.
475 empresas no centro histórico
Andar pelo centro histórico do Recife é ver casas construídas no século 17 e descobrir que eles abrigam salas climatizadas com mobiliário moderno, tecnologia de ponta e equipes trabalhando com algoritmos de logística, segurança da informação, jogos, aplicações para inteligência artificial.
A região abriga um dos principais polos de inovação tecnológica do país, o Porto Digital. São 475 empresas que geram mais de 21 mil postos de trabalho. De pequenas startups a gigantes multinacionais.
Cinco dos dez maiores negócios de tecnologia de informação do mundo, do ponto de vista do volume de capital humano empresário, estão hoje no Porto Digital, conto Silvio Meira, professor emérito da UFPE, que concebeu o Centro de Estudos e Sistemas Avançados de Recife (CESAR), e foi um dos criadores do Porto Digital que completa 25 anos.
Gigantes como as multinacionais Accenture e Deloitte e as recém-chegadas NTT Data, japonesa, e a francesa Capgemini tem endereço no quadrilátero do tamanho de 42 campos de futebol, no centro da capital pernambucana, de acordo com informações da Agência Brasil
O engenheiro elétrico Eduardo Peixoto lembra o destino de quem resolveu se embrenhar pelo campo tecnológico no final do século 20 em Pernambuco:
Quando eu me formei não tinha nada. Então a fuga de talento era gigante. Eu mesmo cumpri o check list. Primeiro fui para São Paulo, depois Genebra.
Ele voltou para Recife em 2002, quando o projeto do Porto Digital estava começando a sair do papel. Desde 2022, Peixoto está à frente do CESAR.
O objetivo era criar essa economia para reter e trazer de volta a galera que tinha fugido daqui, vazando para São Paulo, para China, Nova York, para onde quiser. Se tinha uma chance de dar certo eu tinha que ajudar, acrescentou.
Enquanto caminhava pelas ruas do centro de Recife, verificando se estava tudo certo para no festival de tecnologia do Porto Digital, o Rec’N’Play, que terminou no último final de semana, o presidente do Porto Digital, Pierre Lucena, informou que, “hoje já tem mais de 100 projetos de inovação, educação que a gente toca aqui”.
A gente tem aqui 4,5 mil alunos em três universidades. São cursos mais rápidos, com uma residência nas empresas, onde os alunos já podem se atender às demandas do mercado. Em 2024, ele revelou que a cidade de Recife formava 1,4 mil pessoas na área. Para você ter uma ideia do que isso significa na tecnologia, São Paulo forma 2 mil, comparado.
Silvio Meira, por sua vez, destacou que “cada uma dessas grandes empresas que chegam é também um grande formador de capital humano, uma grande escola”.
Uma empresa quando chega ela traz métodos, traz processos, traz métricas, traz técnicas, traz plataformas. Você tem um ciclo virtuoso de aprendizagem que leva a uma construção coletiva de conhecimento que beneficia não só as pessoas, mas também as empresas, concluiu.
Contrapartida
Para Peixoto, é preciso fazer alguns ajustes na política de estímulo às empresas do setor. Para se instalarem no quadrilátero de 30 hectares na região do Recife Antigo, as empresas recebem um incentivo fiscal. A prefeitura da cidade abre mão de 60% do ISS, o Imposto Sobre Serviço. Ao invés de uma alíquota de 5%, as empresas de tecnologia pagam 2%.
Eles vêm e pegam os talentos que já têm aqui. Por que não tem uma pequena contrapartida? Pega um pedacinho, 0,5%, esse negócio e reinveste em educação?, questionou.
Segundo ele, a contribuição seria importante “até para poder manter o grupo de pessoas que estão entrando no mercado de trabalho que vai beneficiar você (as empresas) também”.
Quase todo incentivo público para inovação, ele tem uma contrapartida. Então, eu acho que é isso que falta nessa política pública, completau.
Só em 2024, o faturamento das empresas embarcadas, como se diz no jargão do Porto Digital, foi de R$ 6,2 bilhões. Mesmo com renúncia fiscal, o Porto Digital representa a terceira maior fonte de receita da capital pernambucana. A prefeitura de Recife não informou qual o valor da renúncia fiscal das empresas instaladas no Porto Digital.
Recentemente, a Associação Nacional de Educação Católica do Brasil (ANEC) divulgou uma pesquisa apontando que 78,1% das escolas do país já utilizam inteligência artificial em processos pedagógicos ou administrativos, ou estão em fase de testes, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil.
Fontecointelegraph