Dias após o cancelamento do desligamento da infraestrutura do Drexó Banco Central apontou que decidiu mudar o boato da iniciativa que originalmente previa a criação de uma moeda digital brasileira. A autoridade monetária vai reduzir o escopo do projeto e concentrar esforços em um serviço direcionado ao uso de garantias de crédito, deixando de lado, por agora, a ambição de transformar o Drex em um meio de pagamento digital acessível à população.
Segundo o coordenador da iniciativa, Fabio Araujo, a função de pagamento não será mais prioritária, e o Drex passará a ter como foco a criação de um sistema que facilite a utilização de ativos como garantias em operações financeiras. “A expressão moeda digital, de fato, não captura toda a extensão da iniciativa Drex, uma vez que remete a pagamentos, o que não é seu ponto central”, afirmou Araujo em entrevista à Folha de S.Paulo.
A decisão ocorre em meio a uma série de dificuldades técnicas e operacionais enfrentadas pelo projeto. Problemas de privacidade, segurança e escalabilidade — a capacidade de uma infraestrutura operar em larga escala sem comprometer o desempenho — levaram o BC a adiar o cronograma e compensar sua abordagem. O plano inicial previa que as primeiras operações com o real digital aconteceriam entre o final de 2024 e o início de 2025, o que acabou não se concretizando.
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Nos testes realizados até agora, o Banco Central tentou preservar a privacidade dos usuários sem comprometer a integração entre os diferentes serviços da Drex, mas as soluções testadas ainda não atingiram o nível de maturidade necessário.
“As soluções testadas até o momento, apesar das promessas, ainda não apresentaram nível de maturidade compatível com o que é exigido pelos serviços convenientes no sistema financeiro nacional”, afirmou Araujo.
Durante a segunda fase do piloto, encerrada em julho, foram testados casos de uso com potencial impacto na vida cotidiana, como transações de imóveis, veículos e ativos do agronegócio, além da aplicação de contratos inteligentes. Apesar dos avanços, os desafios tecnológicos persistiram, e o BC decidiu encerrar a estrutura atual do projeto para preparar uma nova etapa.
O que vem a seguir?
A próxima fase do Drex terá como tema central os registros, registros que indicam quando um ativo está atrelado a um financiamento e não pode ser transferido sem autorização da instituição credora. A ideia é desenvolver um serviço capaz de reconciliar essas informações entre diferentes ambientes de negociação, como registradoras e centrais depositárias.
Com isso, o BC espera aumentar a eficiência do uso de garantias e permitir que ativos de diferentes naturezas — bancos, valores mobiliários ou até virtuais — possam ser utilizados em diversas operações de crédito.
Na prática, o objetivo é criar uma infraestrutura que permita “fatiar” ativos para servirem de garantia em múltiplas operações, desde que haja segurança de que o bem não esteja integralmente comprometido em outro contrato. O novo modelo busca dar mais transparência às garantias e ampliar o acesso ao crédito no país.
Ainda não há uma definição sobre a tecnologia que será usada na nova fase do piloto, prevista para começar no primeiro semestre de 2026. Com a redesenho do projeto e a incerteza sobre os resultados, o Banco Central evita estimar quando o serviço estará disponível ao público.
As mudanças no Drex
O Drex nasceu em 2021 com o objetivo ambicioso de ser o “real digital”, uma moeda do banco central (CBDC) que colocaria o Brasil entre os países líderes em inovação monetária.
A ideia inicial era criar uma digital do real, emitida e garantida pelo Banco Central, que pudesse ser usada em transações do dia a dia, versão interoperável com o Pix e integrada ao sistema financeiro nacional. Na época, o BC apresentou o projeto como parte de uma agenda de modernização que visava ampliar a inclusão financeira e reduzir custos operacionais no sistema bancário.
Com o avanço das pesquisas e o início da fase piloto, o Drex passou a ser testado em um ambiente de registro distribuído (DLT), utilizando tecnologias como o Hyperledger Besu, uma infraestrutura baseada em blockchain que permitiu o desenvolvimento de contratos inteligentes e a tokenização de investimentos financeiros.
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A promessa era grande: permitir empréstimos automatizados, registro digital de imóveis e novos modelos de financiamento. No entanto, logo surgiram obstáculos. O Banco Central concorda que a tecnologia disponível não oferece garantias suficientes de privacidade, confidencialidade bancária e escalabilidade.
A partir daí, o projeto começou a mudar de caráter. Em vez de se concentrar em uma moeda digital de uso direto pela população, o BC começou a reposicionar o Drex como uma infraestrutura voltada para o sistema financeiro. O foco passou a ser a tokenização de ativos, a liquidação de operações entre instituições e a automatização de garantias.
Essa mudança culminou nas fases mais recentes do projeto, em que o BC abandonou temporariamente o uso de blockchain e reformulou a arquitetura tecnológica. A chamada “Fase 3” focaria em testes com garantias de crédito e integração entre diferentes instituições financeiras, mas até o momento não foi divulgada nem o relatório da Fase 2.
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Fonteportaldobitcoin



