Pedro Guerra, chefe de gabinete do vice-presidente Geraldo Alckmin, esteve presente na Satsconf 2025, maior conferência sobre Bitcoin do Brasil, e admitiu ser um “bitcoinheiro” condenado em conversa com o Portal do Bitcoin.
Ele percebeu que o debate sobre Bitcoin dentro do governo brasileiro ainda enfrentou resistência, mas está evoluindo. Guerra defendeu que o Estado precisa considerar a transformação em curso e agir com humildade para entender seu papel nesse novo contexto, atuando como um apoiador em vez de um opressor da inovação.
“Eu sou bitcoinheiro. Eu estudo, eu converso e acho que entendo minimamente sobre Bitcoin”, disse. “Mas eu não sou contra as outras alternativas criptográficas ou analógicas. A moeda é uma coisa muito importante para ficar nas mãos de uma instituição só. Ela é uma criação que surge organicamente na sociedade, e o Estado vem na sequência, buscando dar segurança e institucionalidade ao uso da moeda.”
Segundo ele, há uma incompreensão muito grande sobre o que é a moeda e uma “miopia” em compreender as crises recentes que expuseram os problemas da moeda fiduciária.
Guerra lembrou que o Bitcoin nasceu em 2008, em resposta à crise financeira, e que o avanço de sua atualização é avançado. “O Brasil não é uma ilha. Nós estamos numa economia globalizada. As coisas vão acontecer, e você não pode ficar indiferente a isso. A diferença é: nós vamos ser protagonistas ou vamos ficar a rebocar?”, questionou.
Alckmin é aberto a inovação, diz avaliador
Guerra confirmou que foi o responsável por introduzir o Bitcoin a Geraldo Alckmin. Ele traduziu o livro Graças a Deus pelo Bitcoin durante a pandemia e coincidentemente os capítulos com o então ex-governador de São Paulo. “À medida que eu ia traduzindo, eu levava pro doutor Geraldo. Ele dava uma passada de olhos. Naquele momento, ainda era um pouco mais cético, porque era tudo mais novidade.”
Mesmo assim, Alckmin demonstrou curiosidade e abertura. “Ele é uma pessoa com muita intuição para as coisas e muito aberto. São duas qualidades que se somam: ele é muito específico com gasto público e, ao mesmo tempo, tem abertura à inovação.”
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Embora seja difícil para as gerações mais antigas abraçar as mudanças tecnológicas, Guerra garante que o vice-presidente do Brasil tem essa sensibilidade.
“Uma grande quantidade de pessoas expostas a criptoativos está entre os 20 e 30 e poucos anos. Depois disso, o percentual cai. Por isso, a gente tem que ter paciência e amor para disseminar as ideias. Como diz o Michael Saylor, ‘paciência, modéstia e amor’. É o que a gente faz.”
Reserva de Bitcoin no governo brasileiro
Sobre o projeto de lei que inclui o Bitcoin como reserva estratégica do Estado, Guerra aprovou a ousadia, mas acredita que o Brasil tem um histórico de autonomia e inovação que pode sustentar a possibilidade disso um dia virar realidade.
Ele minimiza as críticas de organismos internacionais, como o FMI, que se opuseram à adoção do Bitcoin por governos como o de El Salvador. “O FMI foi contra o Plano Real. Disse que não ia dar certo. Então, a gente não pode querer ouvir muito o que os outros têm a dizer da nossa realidade.”
Para ele, o importante é adaptar as ideias à realidade brasileira. “Nós temos características sociais e econômicas que nos impõem uma certa independência. É um projeto audacioso, mas, como tudo que é inovador, requer conversa e esclarecimento. Tenho visto um número crescente de adeptos, de pessoas ganhando confiança na ideia.”
Guerra disse não ser nem otimista nem pessimista quanto à chance de aprovação do projeto de lei sobre reserva de Bitcoin do Brasil, reforçando a necessidade de continuidade do diálogo.
“Temos desafios importantes, mas também uma boa base para trabalhar: uma base populacional, mercadológica e de players — desde quem cobre o tema na imprensa até quem atua no mercado diariamente.”
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“Regular, sim. Mas com base em problemas concretos”
Ao comentar a regulação dos criptoativos, Guerra defendeu que o Estado tem papel relevante, mas deve agir com prudência. “A regulação é importante, mas eu sou a linha de que ela tem que vir depois dos fatos. Você não pode querer prever tudo, porque o mundo é complexo.”
“Tudo que é ex-ante tende a engessar, tende a ser anti-inovação. No fim, você não protege e também não inova. Tem que regular com base em problemas concretos que já se manifestaram”, explicou.
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O assessor também vê confusão conceitual nos debates sobre o tema no Brasil. “A gente começa a falar de tokenização, blockchain, IA, reserva estratégica, e vai tudo tirando para um lado diferente. As pessoas nem sabem muito bem do que estão falando. O recorte da reserva foi interessante porque ele é cirúrgico: coloca o Estado como ator e faz isso de forma cuidadosa.”
* Entrevista realizada em conjunto com o repórter Rodrigo Tolotti.
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Fonteportaldobitcoin



