Resumo da notícia
-
Brasil alcança US$ 1 bilhão em ativos tokenizados e consolida ecossistema regulado.
-
Stablecoins BRZ, BRLA e BBRL impulsionam liquidez e integração com PIX.
-
Banco Central e CVM aceleram normas para VASPs e crowdfunding tokenizado.
O mercado de tokenização no Brasil vive um momento histórico. Após anos de investigações e incertezas, o país finalmente se consolida como o epicentro latino-americano dessa revolução financeira.
O relatório “Brazil Tokenization Report 2025 — The Convergence Moment”, produzido pela Nexa em parceria com a Fintrender, mostra que o país reúne os principais players, regulamentações em estágio avançado e um ecossistema em expansão que já movimenta cerca de US$ 1 bilhão em ativos tokenizados.
Desde 2024, o Brasil construiu uma base sólida para unir o sistema financeiro tradicional às inovações em blockchain. O Banco Central (BCB) e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) avançaram com consultas públicas e resoluções que criam as primeiras diretrizes para empresas que operam com ativos digitais e serviços de tokenização.
Essas regras abordam desde a licença para discussão de serviços de ativos virtuais (VASPs) até o enquadramento de tokens como valores mobiliários.
Estrutura regulatória de maturação
De acordo com o relatório, as consultas públicas do Banco Central (109, 110, 111 e 122) estão concluídas e devem resultar, até o final de 2025, em regras definitivas para empresas que atuam no mercado criptográfico.
Ao mesmo tempo, a CVM abriu a Consulta Pública SDM 05/2025, que propõe uma revisão completa da Resolução 88, modernizando o regime de crowdfunding e permitindo a emissão de valores mobiliários tokenizados com limites maiores — até R$ 50 milhões em alguns casos.
Essa convergência regulatória cria uma base inédita no continente. O país adota uma linguagem dupla — o Banco Central trata de “ativos virtuais”, enquanto a CVM e a Receita Federal falam em “criptoativos”.
Essa distinção determina qual órgão de supervisão de cada operação: o BCB regula os VASPs e o uso de tokens como meio de pagamento, e os tokens de supervisão da CVM classificados como valores mobiliários.
Segundo o documento, essa divisão é essencial para dar segurança jurídica a empresas e investidores, além de atrair capital estrangeiro. Em 2025, o mercado brasileiro já conta com mais de 110 empresas contribuindo com dados e estudos, consolidando o país como o hub de tokenização da América Latina.
Stablecoins brasileiras e integração ao sistema financeiro
A expansão das stablecoins lastreadas em real é um dos pilares da tokenização nacional. O relatório cita quatro iniciativas principais: BRZ, BRLA, BRL1 e BBRL, que seguem padrões distintos de governança e uso, mas associações um objetivo comum — integrar o real digital ao ecossistema blockchain.
A BRZ, pioneira nesse mercado desde 2018, está presente em 16 blockchains e já movimentou mais de R$ 1 bilhão em transações. O BRLA, lançado em 2023, possui compliance de nível bancário, mais de 600 mil transações mensais e volume superior a R$ 1 bilhão por mês.
Mais recentemente, o Braza Bank lançou o BBRL, uma stablecoin regulada diretamente pelo Banco Central, totalmente lida em primeiros reais e títulos públicos. O token opera sobre o XRP Ledger, com foco em pagamentos transfronteiriços e integração com o sistema PIX, o que reforça o papel do Brasil como laboratório global de finanças tokenizadas.
Essas stablecoins funcionam como infraestrutura para a tokenização de ativos reais (RWAs) — desde créditos agrícolas até debêntures. Plataformas como Nexa e Liqi já operam tokenização de recebíveis, imóveis e fundos estruturados, totalizando centenas de milhões de reais em transações registradas em blockchain.
O avanço institucional e a nova era dos ativos digitais
Outro ponto de destaque é o engajamento das instituições financeiras. Em 2025, bancos como BTG Pactual, Safra e Nubank entraram no jogo com stablecoins próprias ou soluções integradas de pagamento digital. O BTGDol, do BTG, e o Safra Dólar, por exemplo, oferecem conversão direta com o dólar e integração a sistemas de remessas e crédito.
Esse movimento institucional reforça a tese de que o Brasil está criando uma rota global de tokenização, mas com especialistas locais: a combinação entre PIX, stablecoins e infraestrutura regulatória um ambiente propício para a tokenização em larga escala. Segundo o relatório, 90% das transações criptográficas no país já utilizam stablecoins, um dado que reflete a maturidade do ecossistema brasileiro.
Apesar da satisfação, o relatório aponta que ainda faltam peças importantes para a massificação da tokenização. Questões como interoperabilidade entre redes, educação financeira e padronização de contratos inteligentes ainda limitam o avanço das ofertas públicas. No entanto, 67% das empresas entrevistadas acreditam que o mercado melhorou significativamente em 2025 em relação ao ano anterior.
Outro desafio é a clareza tributária. A Receita Federal ainda precisa atualizar a Instrução Normativa 1.888/2019, conhecida como “DeCripto”, para alinhar o Crypto-Asset Reporting Framework (CARF) da OCDE. A atualização deve ocorrer até o final de 2025 e promete facilitar a reportagem internacional de transações tokenizadas.
Mesmo com os entraves, o otimismo prevalece. De acordo com o levantamento, 70% dos fundos de capital de risco brasileiros já investem em ativos digitais, e o país deve ultrapassar US$ 1 bilhão em ativos tokenizados distribuídos até o fim do ano. A integração entre CVM e Banco Central, somada à entrada de grandes bancos, cria um ambiente fértil para a financeirização digital de todo o mercado de capitais.
Um futuro híbrido e sem fronteiras
A conclusão é que o caminho do Brasil será híbrido: parte dos relatórios ativos continuará sendo registrada em sistemas tradicionais, enquanto novas ofertas ocorrerão on-chain, com contratos inteligentes, auditorias em tempo real e liquidez 24 horas. Essa transição gradual deve reduzir os riscos sistêmicos e permitir que a tokenização amadureça dentro das regras atuais.
Fontecointelegraph