Resumo da notícia:

  • A B3 vai adotar tecnologia inspirada no Bitcoin para modernizar sua central depositária e viabilizar a tokenização de ativos reais.

  • A nova infraestrutura baseada em DLT deve operar de forma autônoma a partir de 2026 e permitir negociações 24 horas por dia, 7 dias por semana.

  • O projeto abre caminho para integração com stablecoins, CBDCs e redução da latência nas transações.

A B3, bolsa de valores do Brasil, está avançando em um processo de modernização da infraestrutura que responde pelo registro de títulos e ações e pela compra, venda e liquidação de ativos, com a adoção da tecnologia de registro distribuído do Bitcoin (BTC) e outras criptomoedas.

O projeto tem como objetivo preparar uma bolsa brasileira para atender às novas demandas do mercado, incluindo negociações ininterruptas, maiores volumes de transações e tokenização de ativos reais (RWA), afirmou Rodrigo Nardoni, vice-presidente de tecnologia da B3, ao UOL.

O processo de atualização tecnológica compreende a migração para a nuvem, a simplificação da infraestrutura de negociação, a implementação de uma nova arquitetura de liquidação em microsserviços e, especialmente, a migração da central depositária de renda variável para DLT.

Em parceria com a Oracle, a Microsoft e a empresa sueca Vermiculus, a B3 está redesenhando seus sistemas em busca de maior eficiência e segurança. A solução desenvolvida funciona de maneira semelhante a uma blockchain, promovendo a integração entre o sistema financeiro tradicional e o ecossistema de ativos digitais.

O cronograma de implementação foi dividido em três fases para garantir a estabilidade do sistema. A primeira etapa, que consistiu em replicar as funções da plataforma atual dentro do ambiente DLT, foi concluída em janeiro deste ano.

A fase crítica da tecnologia será renovada em 2026, quando a nova passará a operar de forma autônoma, mantendo o sistema antigo apenas como backup, até que este seja completamente desativado na última etapa.

Segundo Nardoni, a modernização da infraestrutura da bolsa brasileira é uma resposta às mudanças no comportamento dos investidores e às necessidades de escalabilidade. As criptomoedas inauguraram um padrão em que não há horários de abertura ou fechamento do mercado e a liquidez é permanente.

Agora, os investidores desativaram que o mercado tradicional se adaptasse a essa nova realidade, afirmou o executivo:

“As pessoas se acostumaram a fazer tudo a qualquer momento. Estou me preparando para uma volumetria muito maior, para atender a uma sofisticação de mercado e para um mercado que eventualmente não abre nem data.”

Nova infraestrutura já traz benefícios para os investidores

A transição para o novo sistema já trouxe melhorias pontuais para os investidores, afirmou Nardoni. O mecanismo de liquidação também integrou um módulo de gestão de risco e passou a utilizar microsserviços na nuvem para aumentar a escalabilidade. A latência no sistema de negociação que era de 1,2 milissegundos em 2023 caiu para cerca de 250 microssegundos atualmente. A meta é chegar a 150 microssegundos.

Além da modernização da infraestrutura de negociação, a adoção da DLT estabelece a base necessária para a tokenização de ativos do mundo real, como ações, cotas de fundos, títulos de crédito e ativos imobiliários.

O novo sistema também permite a integração da infraestrutura de bolsa com stablecoins e moedas digitais de bancos centrais (CBDCs) em processos de liquidação financeira. Isso abre espaço para que a compensação e a transferência de ativos ocorram quase em tempo real, com menos dependência de intermediários do sistema financeiro tradicional.

Apesar do potencial de tokenização de ativos reais, Nardoni descobriu que ainda há mais dúvidas sobre quais tipos de aplicações deverão ganhar atração nos próximos anos:

“Eu não sei se uma stablecoin vai voar ainda ou se a tokenização de ação vai ser alguma coisa que faça sentido. Será que há outros mercados onde esse uso pode ser mais trivial? Por exemplo: será que, em imóveis, a gente pode ter edificações tokenizadas dentro de uma DLT? Aqui eu tenho necessariamente mais perguntas do que respostas.”

Por isso, o objetivo não é antecipar os possíveis vencedores, mas garantir que a infraestrutura da B3 esteja “preparada para responder a tudo isso”, afirmou Nardoni. A capacidade de adaptação a diferentes cenários será determinante para que a bolsa se mantenha relevante com a evolução do mercado de ativos digitais.

Nesse sentido, a iniciativa se insere num movimento global de modernização de bolsas e sistemas financeiros, que combina adoção de serviços em nuvem, APIs modulares e adoção de DLT para serviços de custódia e liquidação.

A estratégia busca equipar o ambiente de negociação da B3 ao de bolsas internacionais como o CME Group e a Eurex, reduzindo o risco de fuga de capital e de investidores por inferioridade técnica.

A adoção de inteligência artificial (IA), por sua vez, está limitada a serviços de suporte e chatbots para corretoras. Nardoni explicou que operações críticas como negociação e encerramento resultados determinísticos, contrários à natureza probabilística da tecnologia:

“Eu não posso errar de jeito nenhum. Não é a tecnologia pela tecnologia. Tem que fazer sentido.”

Apesar do atraso no desenvolvimento do Drex, a moeda digital do banco central brasileiro, a convergência entre a tecnologia blockchain e o mercado tradicional tem avançado no Brasil, sob a liderança da iniciativa privada.

Conforme noticiado recentemente pelo Cointelegraph Brasil, o Banco BV lançou um Certificado de Direitos Creditórios do Agronegócio (CDCA) tokenizado, e o Mercado Bitcoin criou um token RWA que permite o investimento direto em projetos sociais.

Fontecointelegraph

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