Quando o CEO da Nvidia, Jensen Huang, disse inicialmente ao Tempos Financeiros que a China iria “vencer a corrida da IA” antes de suavizar a sua posição, cristalizou uma situação que tem estado a ser preparada há anos. O fabricante de chips mais valioso do mundo encontra-se agora preso entre duas superpotências, cada uma delas empunhando a proibição dos chips de IA da Nvidia como uma arma numa guerra fria tecnológica mais ampla – e a tentativa da empresa de agradar a ambos os lados pode, em última análise, satisfazer nenhum dos dois.
Do domínio ao zero: um colapso do mercado
Os números contam uma história dura. Falando em um evento da Citadel Securities em outubro, Huang revelou que a participação da Nvidia no mercado chinês de aceleradores de IA caiu de cerca de 95% para zero, com a empresa agora assumindo nenhuma receita da China em suas previsões. Isto não é apenas um problema de receitas – a China representava anteriormente entre 20% e 25% das receitas dos data centers da Nvidia, um segmento que gerou mais de 41 mil milhões de dólares nos seus resultados financeiros mais recentes.
O último golpe ocorreu esta semana, quando fontes afirmaram que a Casa Branca informou às agências federais que não permitiria que a Nvidia vendesse seus mais recentes chips de IA em escala reduzida para a China, especificamente o chip B30A projetado para treinar grandes modelos de linguagem. Apesar da Nvidia fornecer amostras aos clientes chineses e supostamente trabalhar para modificar o design, a administração Trump traçou uma linha dura.
Mas as restrições de Washington representam apenas metade do problema da Nvidia. Pequim emitiu orientações exigindo que novos projetos de data centers que recebam fundos estatais usem apenas chips de IA fabricados no país, com projetos com menos de 30% concluídos ordenados a remover todos os chips estrangeiros instalados ou cancelar planos de compra.
É um movimento de pinça que deixa a Nvidia praticamente sem espaço de manobra.
O jogo do lobby: tarde demais?
Huang há muito argumenta que manter a dependência da China do hardware americano serve os interesses dos EUA. Sua lógica? Mantenha os desenvolvedores chineses de IA presos ao ecossistema da Nvidia e a América manterá a vantagem tecnológica.
Após reuniões com o presidente Trump em julho, parecia que o lobby de Huang funcionou, com Washington concordando em aliviar algumas restrições de chips sob um plano em que a Nvidia e a AMD pagariam ao governo dos EUA 15% de suas receitas chinesas.
Esse otimismo teve vida curta. Desde então, Pequim excluiu a Nvidia do mercado através de uma revisão de segurança nacional dos seus chips, com Huang afirmando que a quota de mercado da empresa foi reduzida a zero. A ironia é palpável: enquanto Huang pressionava Washington para permitir mais vendas à China, Pequim construía simultaneamente barreiras para manter a Nvidia fora.
Quando Huang comparou os subsídios energéticos pró-indústria da China com o que descreveu como uma regulamentação ocidental excessiva, revelou a tensão fundamental na posição da Nvidia. A empresa necessita de uma política favorável de ambos os capitais, mas opera num ambiente onde agradar a um significa cada vez mais antagonizar o outro.
O custo do nacionalismo tecnológico
Este não é apenas um problema corporativo – está remodelando o cenário global da IA. A proibição da China eliminaria fabricantes estrangeiros de chips como a Nvidia de uma parcela significativa do mercado, mesmo que fosse fechado um acordo para permitir a retomada das vendas de chips avançados para a China.
Entretanto, as empresas chinesas têm mais de 100 mil milhões de dólares em financiamento estatal para projetos de centros de dados de IA desde 2021, criando um enorme mercado cativo para alternativas nacionais.
A chicotada política tem consequências reais. Após as reuniões de Trump com o presidente chinês Xi Jinping, as tão esperadas negociações comerciais não produziram concessões de nenhum dos lados na política de chips, com as principais autoridades dos EUA se manifestando contra a consideração inicial de Trump do pedido de Huang para permitir a venda de novos chips de IA para a China.
A resposta de um porta-voz da Nvidia às últimas restrições foi reveladora Reuters: “participação zero no mercado altamente competitivo da China para computação de datacenter, e não incluímos isso em nossa orientação”. É um reconhecimento público da derrota envolto em linguagem corporativa.
A resposta calculada da China
As medidas de Pequim revelam uma estratégia que vai além da mera retaliação. A China desencorajou os gigantes da tecnologia locais de comprar chips avançados da Nvidia este ano por questões de segurança, ao mesmo tempo em que exibia um novo data center alimentado exclusivamente por chips domésticos de IA. A mensagem é clara: a dependência externa é uma vulnerabilidade que deve ser eliminada e não gerida.
O governo chinês está conquistando participação de mercado para fabricantes nacionais de chips, desde Huawei Technologies até players menores, como a Cambricon, listada em Xangai, e startups como MetaX, Moore Threads e Enflame.
Embora essas empresas lutem para igualar o desempenho e o ecossistema de software da Nvidia, elas estão obtendo exatamente o que mais precisam: tempo, dinheiro e um mercado protegido para amadurecer.
O equilíbrio impossível
A situação difícil da Nvidia expõe uma verdade mais ampla sobre a tecnologia numa era de grande competição de poder: o meio-termo está a desaparecer. As empresas podem otimizar as prioridades de segurança nacional americanas ou o acesso ao mercado chinês, mas cada vez mais não ambas.
Huang expressou preocupação com o facto de o Ocidente estar a ser retido pelo “cinismo” e pela regulamentação excessiva, contrastando isto com os subsídios energéticos da China destinados a reduzir os custos para os promotores locais que utilizam chips nacionais. Mas esta comparação perde o foco.
A questão não é se a política industrial da China é mais eficaz – mas sim se a Nvidia pode operar num ambiente onde a tecnologia se tornou inseparável da geopolítica. A saga B30A ilustra a futilidade dos compromissos técnicos.
Mesmo um chip deliberadamente neutralizado para cumprir os controlos de exportação dos EUA não encontra aprovação de Washington, enquanto Pequim vê cada vez mais qualquer chip estrangeiro como uma vulnerabilidade estratégica. A Nvidia poderia projetar mil variantes, cada uma mais fraca que a anterior, e ainda assim ser excluída por um capital ou outro.
O que vem a seguir?
No curto prazo, a Nvidia enfrenta uma dura realidade: a empresa agora assume 0% de receita da China em todas as previsões, com Huang afirmando: “Se alguma coisa acontecer na China… será um bônus”. Esta orientação conservadora protege as ações, mas sinaliza que a administração não vê nenhuma resolução no curto prazo.
A verdadeira questão é se isto representa um congelamento temporário ou uma fratura permanente. Embora a medida ajude a impulsionar as vendas de chips desenvolvidos internamente, também corre o risco de aumentar a lacuna EUA-China no poder de computação da IA, à medida que os gigantes tecnológicos dos EUA continuam a gastar centenas de milhares de milhões em centros de dados alimentados pelos chips mais avançados da Nvidia.
Para a Nvidia, o caminho a seguir provavelmente envolve duplicar a aposta nos mercados onde a geopolítica se alinha com os negócios – os EUA, a Europa e as nações asiáticas amigas. O sonho da China, pelo menos na sua forma anterior, parece ter acabado. A suavização dos comentários de Huang sobre “a China vencerá” reflecte esta nova realidade. A América pode não ganhar se manter a China dependente dos seus chips, mas a Nvidia certamente perde se for apanhada no meio.
A proibição dos chips Nvidia AI – em ambas as direções – representa mais do que controles de exportação ou política industrial. É uma prova de que na corrida pela IA não haverá fornecedores neutros. As empresas tecnológicas serão cada vez mais forçadas a escolher um lado, e aqueles que hesitarem descobrirão que a escolha foi feita por eles.
A queda da Nvidia de 95% para zero participação de mercado na China levou apenas alguns meses. A questão agora é se Washington e Pequim deixarão algum espaço para as empresas globais de tecnologia operarem.
(Foto by OpenAI e Nvidia planejam acordo de chips de US$ 100 bilhões para o futuro da IA)
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